A PSIQUIATRIA NO DIVÃ

entre as ciências da vida e a medicalização da existência


Adquira o livro se tornou uma referência na área da psiquiatria e da saúde mental, citado por mais de 230 trabalhos científicos (fonte: Google Academics):

Preço: R$ 47,00

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“Hoje em dia, se um indivíduo não tomar cuidado e passar desavisado pela porta de
 um psiquiatra pode sair de lá com um diagnóstico e um tratamento na mão”.


Quem disse esta frase? Um militante verde, um adepto de medicinas orientais alternativas, um remanescente da contracultura dos anos 1960, ou um ex-presidente da Associação Mundial de Psiquiatria e ex-diretor da divisão de saúde mental da Organização Mundial da Saúde? É isto mesmo, o autor da frase é o psiquiatra brasileiro Jorge Alberto da Costa e Silva, que ocupou esses cargos durante anos.

Uma voz dissonante? Não. No livro Psiquiatria no divã este e outros depoimentos são recolhidos para mostrar como a preocupação com os (des)caminhos da medicina mental atual deixou de ser assunto de “alternativos” e foi assumida por insuspeitos e aclamados representantes do próprio establishment psiquiátrico. As razões para isto não são poucas.

Há hoje em torno de 500 tipos de tr@nstornos mentais e do comportamento catalogados – é realmente difícil para qualquer um escapar ileso a uma ananmese detalhada. O consumo de medicamentos psicotrópicos cresce de forma espantosa, impulsionado por prescrições de médicos de todas as especialidades e pelo surgimento de um novo conceito, o das lifestyle drugs, as drogas que visam não apenas curar males, mas sobretudo produzir um estilo de existência.

Numa cultura como a atual, que valoriza o bem- estar a ponto de torná-lo quase uma obrigação moral para todo sujeito, o uso rotineiro, quando não abusivo, dessas drogas lícitas entrou facilmente na paisagem cotidiana. Nas últimas décadas muitas palavras técnicas, oriundas da psicopatologia, invadiram o vocabulário do dia a dia.

Pense o leitor: quantas vezes disse recentemente “estou meio depr1m1do” ao invés de “estou triste”? Hoje, qualquer criança muito levada é “hiper@tiv@”, qualquer aflição aguda vira “p@n1co”. O efeito é inevitável: tristeza e aflição são coisas da vida, assim como o fato de que algumas crianças são mais agitadas e distraídas que outras. Mas depress@o, hiper@tividade e s1ndrome do p@nico são e exigem diagnóstico e tratamento.

Ao lado disso, o avanço das neurociências no conhecimento do funcionamento cerebral, viabilizado principalmente pelas novas tecnologias de visualização médica, trouxeram como efeito colateral uma verdadeira onda de explicações neurais para as mais diversas áreas da experiência humana. (experimentem colocar no google palavras como neuroteologia, neurofilosofia, neuroética, neuromarketing, neuropolítica, neuroeducação, além, claro, da conhecidas neuropsicologia e neuropsicanálise).

Estes termos não são, evidentemente, ligados à psiquiatria ou à psicopatologia. Mas o fato é que sua disseminação mostra a medida do quanto a premissa neural como chave de explicação da vida em geral se expandiu num curtíssimo espaço de tempo, ampliando a permeabilidade cultural a uma intensa medicalização da existência.

O livro de Adriano Aguiar é claro, ágil, com depoimentos e informações coletados na quantidade certa e apresentados de maneira simples e precisa, sem o jargão técnico que afasta os leigos, mas também sem aquela retórica “alternativista” de tantas críticas estereotipadas ao “poder médico”. O autor, ele próprio psiquiatra, sabe que a psicofarmacologia é um instrumento poderoso quando bem usado, e que as exigências impostas aos indivíduos pela sociedade atual de fato tendem a empurrá-los para situações de fragilidade e desequilíbiro psíquico.

Seu livro não é um libelo antipsiquiátrico, mas uma lúcida e convincente discussão sobre o acelerado processo de psiquiatrização da vida, em curso desde o fim da Segunda Guerra Mundial, e que precisa ser enfrentado no espaço mais amplo da cultura e da política. A resenha tem que terminar aqui. A leitura do que Psiquiatria no divã tem a oferecer espero que continue.

Se você, leitor, não quer “entrar desavisado”, não deixe a leitura pra depois.

(Resenha escrita pelo Psiquiatra e Psicanalista Benilton Bezerra, publicada na Revista Latino Americana de Psicopatologia Fundamental)